Papo reto do presidente Márcio Ayer – A Polícia Civil investiga a agressão de supostos “seguranças” a uma mulher que teria tentado furtar um supermercado na Zona Norte do Rio. Registrada em vídeo pelos próprios agressores, as imagens de uma moradora do Morro do Cajueiro levando tapas e chineladas no rosto causaram muita indignação na internet. Enquanto apanha, ela é interpelada pelos seguranças. ”Você vai roubar mais aqui?” “Não, não vou roubar”, responde ela. “Respeita a segurança, porra!”, grita um deles.
O nome do mercado, dos seguranças e da vítima não foram citados durante a gravação nem pela Polícia. A 29ª Delegacia (Madureira) se limitou a informar que tomou conhecimento pelas redes sociais e instaurou um “procedimento para apurar os fatos”.
Apesar de revoltantes, as imagens têm algo a ensinar. Além de todo o racismo (sim, era uma negra), preconceito de classe (sim, era moradora de comunidade) e desrespeito às mulheres, a gravação dá um soco na cara do Brasil ao mostrar que a tortura ainda é um dos principais métodos de aplicação de “justiça” no país. Uma violência praticada não apenas por policiais, milicianos ou traficantes que “resolvem” com as próprias mãos, mas também por seguranças que se julgam acima da lei para defender o sossego do patrão. Uma realidade que não é exclusiva do Rio, nem do comércio. Os vigilantes parecem estar despreparados em todo o país, que ficou estarrecido, na semana passada, com o assassinato do menino João Victor por seguranças de uma lanchonete em São Paulo.
A mulher foi torturada por tentar furtar comida, o chamado furto famélico, algo que nem é considerado crime pelo Código Penal, mas que deve se tornar cada vez mais frequente com o acirramento da crise. Já os agressores têm quase absoluta certeza da impunidade. Afinal, eles têm as costas largas. Caso sejam indiciados, provavelmente serão defendidos na Justiça pela própria empresa, como é comum nos processos que envolvem agressões de seguranças de mercados e outros estabelecimentos. Mas, felizmente, a lei nem sempre está com eles.
Falta de preparo – Recentemente, o TJ de São Paulo condenou um supermercado a pagar indenização para família de pedreiro espancado até a morte por seguranças, em 2009. Ele foi flagrado furtando um pacote de coxinhas congeladas, queijo e dois tubos de creme para o corpo, num total de R$ 38. Em outro caso grave, também de 2009, um técnico em eletrônica foi espancado por seguranças ao ser confundido com um assaltante. Ele estava dentro de sua EcoSport no estacionamento de um supermercado enquanto sua mulher fazia compras. Abordado pelos seguranças, foi levado para uma sala e espancado. O motivo: racismo. Para o segurança, não foi normal ver um negro ao volante de um carro novo, só podia ser assalto.
São casos que mostram o quanto a maioria dos vigilantes do comércio está despreparada. Esperamos que os agressores sejam punidos com todo o rigor da lei. Exigimos ainda que os patrões sejam mais criteriosos na contratação de seus seguranças. Não podem aceitar que ex-policial delinquente, miliciano ou o matador do bairro faça a segurança do mercadinho. Uma vez contratado, o vigilante deve receber o devido treinamento. Funcionário com função de promover segurança não pode, de forma alguma, agredir clientes, outros funcionários ou quem quer que seja. Vigilante tem o dever de apaziguar, não o de incitar a violência.
Márcio Ayer, presidente do Sindicato dos Comerciários
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