Os últimos passos da Andarella – parte I

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Segundo informações de funcionários, a tradicional sapataria Andarella, que ia mal das pernas já há algum tempo, vai acabar no fim do mês. O grupo chegou a ter 39 lojas, mas deve fechar as poucas que continuam em funcionamento até o dia 31/3. Todos os trabalhadores estão de aviso prévio. “O pessoal está preocupado, o que é justificável pelo histórico da Andarella, empresa que nunca valorizou muito suas funcionárias e funcionários. O Sindicato está atento, sobretudo nosso Departamento Jurídico, para garantir que os trabalhadores sejam respeitados e recebam todos os seus direitos. Também temos uma ação correndo contra a empresa na Justiça do Trabalho por vários descumprimentos da legislação trabalhista”, comenta o diretor jurídico Edson Machado.  

A partir do final de 2015, os funcionários demitidos começaram a ter dificuldades para receber suas indenizações. Quando o Sindicato interveio, a empresa propôs quitar as dívidas em 24 vezes, o que daria uma mixaria por mês, expondo os demitidos ao risco de não conseguir garantir a alimentação de suas famílias. Os depósitos da empresa no FGTS também estavam com meses de atraso, assim como salários e benefícios de quem continuava trabalhando na Andarella. O Sindicato rejeitou a proposta, colocou pressão e conseguiu negociar um acordo mais favorável para os funcionários, tanto os demitidos quanto os da ativa.

“Levamos a discussão à mesa de conciliação da Superintendência Regional do Ministério do Trabalho (SRTE) e arrancamos o parcelamento das dívidas num prazo menor, de 7 a 12 meses. Fomos a todas as lojas da rede no Rio para consultar os funcionários, porque longe de ser o acordo desejável, era o possível de arrancar naquele momento. Só quando os trabalhadores toparam é que a gente assinou. Mas depois surgiram outros problemas e a gente foi forçado a processar a empresa”, conta o presidente do Sindicato, Márcio Ayer, que lamenta o fechamento das lojas e dos postos de trabalho na Andarella.

Cara de pauApós a assinatura do acordo para o pagamento das rescisões, o Sindicato recebeu outras denúncias dos funcionários que permaneceram empregados, tais como atraso de até dois anos no recolhimentos de FGTS e INSS, atraso no pagamento de salários e de férias, atraso na concessão de vale-alimentação e do vale-transporte. Os planos de saúde também foram suspensos, sem aviso prévio aos funcionários, que só descobriram na hora de pagar a conta no consultório do médico, em situação de grande constrangimento. Postura que demonstra o completo desprezo da empresa pelo bem-estar dos funcionários, que tiveram vidas e finanças totalmente desorganizadas.

Cobrada em novas reuniões realizadas na SRTE, a empresa assumiu as irregularidades, enrolou, disse que precisava esperar o resultado das vendas no Dia das Mães para se recuperar, enrolou mais um pouco, mas acabou não regularizando a situação. Após várias outras tentativas de negociação, para preservar os interesses dos trabalhadores da Andarella, não restou outra alternativa ao Sindicato além de acionar a empresa na Justiça. O Sindicato pede na ação: recolhimento das diferenças de FGTS em aberto, com aplicação de juros, correção monetária e multa; regularização dos recolhimentos de INSS, que a empresa não deposita embora desconte dos funcionários, o que pode caracterizar crime de apropriação indébita; pagamento em dobro das férias não pagas ou pagas fora do prazo; pagamento retroativo do vale-refeição em aberto; restabelecimento do plano de saúde dos funcionários que o detinham; indenização por danos morais coletivos no valor de R$ 100 mil.

Mesmo com o fechamento das lojas e o encerramento da empresa, a Andarella e seu dono não vão se livrar deste processo. A primeira audiência será realizada em 1/06. A empresa já apresentou defesa prévia, na qual diz que é tudo mentira do Sindicato, embora não tenha contestado em momento algum as irregularidades quando as mesmas foram discutidas na SRTE. Quer dizer, além de tudo, a Andarella tem cara de madeira.

Repórter Comerciário – Essa notícia sobre o fechamento da Andarella e o processo que ela responde na Justiça do Trabalho faz parte da série Repórter Comerciário. Vamos expor os patrões que exploram os trabalhadores no comércio do Rio, tanto naquelas ocasiões em que usam as brechas da lei, quanto naquelas em que roubam o trabalhador na mão grande mesmo, com fraudes e outras práticas criminosas. Sofreu ou soube de alguma injustiça no comércio? Faça uma denúncia, procure nosso Departamento Jurídico ou conte sua história com detalhes que a gente publica aqui.

Você conhece o homem-pássaro da Andarella? Saiba tudo na próxima edição do Repórter Comerciário!  

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